Wednesday, December 13, 2006

DESPEDIDA


DESPEDIDA

Esgueirando pelos cantos impuros,
Percebo uma veste na cor das trevas.
E refletindo sobre esta vil miragem
Estremeço até o último sentido.

Qual o apreço que dedico a esta visão?
O medo será mera alusão,
Ou as vestes intocadas da libertação,
Enfim, vieram me visitar?

Comungo com esta breve náusea,
E levitando sou atraído em sua direção,
Como uma presa que irresistivelmente
É impelida em direção ao abismo...

E tombo, num torpor de enternecimento,
Pois perco aquilo que me torturava,
O peso do mundo ante minhas costas;
E perco aquilo que me sufocava,
A máscara servil que me enfeitiçava;
E perco aquilo que me silenciava,
A música trêmula que me calava;
E perco aquilo que me açoitava,
Os chicotes perversos que me enxergavam.

E tombo no precipício...
Nas nuvens do silêncio sou revestido.
A doce brisa me conforta;
E sorrio...!
Pela primeira vez sem direção,
Pois flutuo sozinho na imensidão,
Abandonando a mais vil das obrigações:
A de sustentar um rosto e uma vida!