a metástase que caminha
invade a minha alma
através do vírus do choro convulso da viúva
e enche meu coração antes pulsante
de medo do tempo
medo de que o tempo que tenho contigo passe
e que não cesse minha vontade de ti
e o que farei com essa vontade presa em minha carne?
o que farei com a carne que não vive sem teu cheiro?
a metástase que caminha me deixou com medo
e do tempo que não perdoa
e que ressoa como o vento incolor
traz sua mensagem presa na sutileza
“não sintas dor”, diz-me
apenas sinta o meu toque que leva
ou como a brisa o pólen inerte
ou como o jato o edifício cravado em concreto
o incerto é tudo o que caminha
e de minha parte tens frívolo medo
pois trago libertação
sou o vento e tudo mudo
e mudo diante da confissão temerária
persigo em vão o relógio e suas onomatopéias
sem saber que o vento já me embala
desde o nascimento que desvela
desde minhas primeiras ideias
* * * *
olho para ti e vejo o tempo se escoar
e descubro que há luz onde havia treva
e como existe a brevidade
venha cá e me beija
para trocarmos
não apenas saliva e pruridos e desejos
mas eternidades
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